sexta-feira, 20 de março de 2020

UMA DESPEDIDA SEM ADEUS - O CHORO POÉTICO DO PRESIDENTE OTTOBONI

Quem acha que a mudança de casa feita pelo Formigão se deu naturalmente e sem saudosismo, está enganado. Após o último jogo do Esporte Clube São José no antigo estádio da Antonio Saes, o presidente Mário Ottoboni fez uma reflexão, que resultou num belíssimo poema, que transcreveremos a seguir:

Uma despedida sem adeus!


Este tapete, soma de encantos
que mãos calosas transplantaram um dia,
foram painéis de espertos tantos
que emolduraram quadros de alegria.

Dou-te mãos e um amplexo fraterno,
marca do afeto de gente hospitaleira...
serás lembrado e viverás eterno,
Colosso amigo, que és Martins Pereira.

Oh, meu estádio velho e sempre amado!
Ontem cedo contemplei-te demoradamente.
Senti-me só, entristecido, acabrunhado,
rápido fiz-me então presente ao ausente.

Fiquei ouvindo vozes no espaço,
era a torcida amiga, disfarçando
num alarido enorme e sem compasso.
Uma alegria triste - soluçando.

Queria ela, em tudo que consiste,
gritar bem alto pelos lábios meus.
Dizer sentida uma palavra triste,
falar chorando esta palavra: ADEUS!

São José dos Campos, 26 de novembro de 1967.


Presidente Mário Ottoboni no ato que marcou a reinstalação da placa do Martins Pereira, que havia sido removida na última reforma. (Foto: Bruno Ribeiro)


Graças ao trabalho do professor Alberto Simões este poema não se perdeu com o tempo e está registrado em seu livro "Esporte, Formigão e Águia", lançado em 1992.


terça-feira, 17 de março de 2020

ESPECIAL 50 ANOS DE MARTINS PEREIRA - CAUSOS A ACASOS (parte 1)


Se tem uma coisa que não falta quando falamos de Martins Pereira são as histórias. E é dessas histórias que nós vamos falar hoje. Uma dessas histórias quem conta é o torcedor Sandro Loyola, que frequenta o Martinsão desde 1996. Sandro relata que em 1999 chegou a ver o lendário técnico Zagallo, que à época comadava a Lusa, querendo "sair na porrada" com torcedores que o cercavam na antiga entrada para os vestiários. Sandro lembra que era muito comum os torcedores irem para aquele local protestar, cobrar, xingar ou aplaudir o juiz (dependendo da postura do árbitro em campo ele poderia tanto ouvir elogios à sua genitora quanto ser aplaudido) ou simplesmente saber de informações de bastidores em primeira mão. A malfadada reforma de 2013 tirou essa diversão dos joseenses.


Sandro e o eterno presidente Mário Ottoboni no Martinsão.



O Martins Pereira também é palco de muitas experiências em família, como nos conta Edson Damaso, o Edinho da TUSJ. Edinho conta que sua primeira vez no estádio foi no Paulistão de 1991, no empate sem gols do São José contra a Catanduvense.

"Minha primeira vez no Monumental, me lembro como se fosse hoje, meu pai disse pra eu me arrumar porque iríamos ver o São José. Eu já torcia, mas nunca tinha ido (ao estádio). Experiência inesquecível! Me lembro de cada detalhe do jogo. Isso foi em 1991, contra a Catanduvense, desde então o Martinzão se tornou minha segunda casa, é o lugar que eu sempre quero estar!"


Edinho em mais um jogo do São José. " Segunda casa".


Um episódio curioso também marcou a história do cinquentenário estádio Aconteceu depois de um jogo do Paulistão de 1981. Era o primeiro jogo da decisão do segundo turno do Paulistão e o São José venceu o São Paulo por 2x1. Após o jogo o saudoso Mário Sérgio, que na época jogava pelo São Paulo, sacou um revólver e atirou, não se sabe ao certo se foi pra cima, no chão ou na direção dos torcedores da Águia, que cercavam e balançavam o ônibus da delegação sãopaulina. Mário Sérgio precisou se explicar na Delegacia de Polícia, mas depois disso ganhou o apelido de "Rei do Gatilho". Infelizmente Mário Sérgio foi uma das vítimas da tragédia com o voo da Chapecoense, em novembro de 2016.


O "Rei do Gatilho", em jogo contra o São José, no Morumbi.


E você, torcedor, tem uma história vivida no Martins Pereira pra nos contar? Entre em contato com o Almanáguia! 

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domingo, 15 de março de 2020

50 ANOS DE HISTÓRIA! PARABÉNS, MONUMENTAL MARTINS PEREIRA!

O ano era 1967. O então Esporte Clube São José ainda debutava no futebol profissional, mas já enchia o aconchegante estádio da rua Antônio Saes de esportistas, entusiasmados com o ascendente escrete joseense. O entusiasmo era devido ao fantástico começo do clube  no profissionalismo, quando conquistou dois titulos e dois acessos logo nos dois primeiros anos. O alvinegro joseense - o clube usou preto e branco até 1976 -, no entanto, não poderia continuar mandando no saudoso estádio - que também se chamava Martins Pereira - se quisesse ascender à elite do futebol estadual, graças a uma portaria baixada pela Federação Paulista de Futebol exigindo que os clubes da Divisão Especial (atual série A1) tivessem um estádio com, no mínimo, 10 mil lugares. O pequeno estádio da rua Antônio Saes comportava apenas 5 mil torcedores, com arquibancadas de madeira.



Estádio Martins Pereira da rua Antônio Saes, final dos anos 60


O então presidente Mário Ottoboni se via diante de um desafio: construir um estádio que cumprisse a exigência da FPF. Aqui vale ressaltar que coragem não faltava ao saudoso e eterno presidente - foi em sua gestão, iniciada em 1964, que o clube saltou do amadorismo ao futebol profissional. A nova tarefa não foi nada fácil. O Formigão do Vale vendeu o seu romântico e acanhado estádio e adquiriu um terreno no planalto do Jardim Paulista para a construção de uma nova praça de esportes, adequada aos novos termos da FPF. No entanto, o clube precisou se afastar dos campeonatos oficiais por dois anos, até a conclusão do estádio, em 1970.



Vista aérea do estádio em 1970 - Foto: Revista Fagulhas



As obras se iniciaram oficialmente em 22 de fevereiro de 1968 se estendendo até o início de 1970. Inicialmente o projeto previa que fossem construídos dois anéis, mas o estádio acabou sendo inaugurado logo após a finalização do primeiro - e até hoje, único. A inauguração do Monumental do Jardim Paulista aconteceu em 15 de março de 1970, contando com a presença de várias autoridades e desportistas da cidade. Dentro de campo rolou um quadrangular com participação de Palmeiras, Atlético Mineiro e Internacional-RS, sendo os dois últimos responsáveis pelo primeiro jogo do novo Martins Pereira. Dadá Maravilha anotou o primeiro gol do estádio, o único da partida.



O time joseense no dia da inauguração. Foto: Revista Fagulhas


A ousadia do presidente Mário Ottoboni deu certo,  mas custou a vida do Alvinegro de Martins Pereira, que anos depois da construção se viu diante de uma dívida tida como impagável e, além de perder seu estádio (que foi arrematado em leilão pela URBAM, subsidiária da prefeitura de São José dos Campos), ainda foi submetido a uma mudança em 1976, com anuência da Federação Paulista de Futebol, quando passa a se chamar São José Esporte Clube, usando as cores e um escudo inspirados na bandeira da cidade. Após a URBAM adquirir o estádio, para que o São José não ficasse "ao relento", a câmara municipal aprovou e o prefeito Ednardo Santos sancionou a lei nº 1810, de 29/06/1976, que concedia ao São José o direito de mandar seus jogos no estádio sem ter de pagar aluguel pelo prazo de 2 anos, renováveis pelo mesmo prazo até quando se julgasse necessário. Nesse momento o São José passava de dono a simples usuário do estádio que construiu.

Lei 1810 de 29/06/1976


O estádio passou por algumas reformas e adequações ao longo dos anos, mas nenhuma foi tão cruel quanto a de 2013, durante o mandato do prefeito Carlinhos de Almeida, quando até o portão principal, que antes dava para o Jardim Paulista, foi parar na rua de trás, com a justificativa de facilitar o acesso pela Via Dutra. Essa mudança também "matou" parte da arquibancada, que ficou isolada entre os setores das cadeiras e o visitante. Com isso o acesso só pode ser feito pela antiga entrada, localizado na mesma rua do portão destinado à torcida visitante. A reforma custou certa de R$18 milhões e visava receber uma seleção da Copa do Mundo que se realizaria no país no ano seguinte, mas os planos do então prefeito se frustraram quando nenhuma das delegações escolheu a cidade.



Foto: /Léo Araújo/@vistadoalto.oficial


Exatamente 50 anos depois, pouco sobrou do sonho do presidente Ottoboni. A tão sonhada casa joseense já não pertence mais ao clube, que hoje é obrigado a aceitar jogar "de favor" no estádio que foi construído à custa de sangue, suor e lágrimas. Além disso, o torcedor joseense sofre constantemente com as ameaças feitas pela prefeitura de concessão e/ou privatização do estádio, tratado pela administração municipal como um "elefante branco". Hoje o clube só não é obrigado a pagar pra jogar no estádio por conta da lei nº 5732, de 22/08/2000, sancionada no mandato do prefeito Emanuel Fernandes.

Lei 5732 de 22/08/2000



São 50 anos de história. Todo torcedor do São José tem uma lembrança, uma boa história pra contar envolvendo o estádio. Para muitos de nós o estádio é nossa segunda casa. Palco de muitas vitórias, finais felizes, gols incríveis, como aquele do goleiro Gustavo, contra o Comercial aos 44 do segundo tempo, empatando um jogo perdido. Também temos recordações de momentos tristes como aquela dolorosa derrota para o União de Mogi das Cruzes, acabando com o sonho do acesso em 2017. 

E se o Martins Pereira falasse? O que ele diria? Eu acho que ele diria o seguinte:

"Obrigado, Esporte Clube São José, por ter sacrificado a própria vida pela minha construção. Jamais te esqueceremos, Formigão!

Siga firme, São José Esporte Clube! Estarei sempre aqui, à sua disposição. O que seria de mim sem você, minha Águia? Ainda teremos muito o que comemorar nesse meu tapete verde.

E... torcedor da Águia, eu te vi chorar tantas vezes que nem sei mais quando é de tristeza ou de alegria. Saiba que por tras desse monte de concreto e aço existe sempre um espaço pra você, seja pra comemorar, lamentar, ou simplesmente passar mais um fim de semana vendo nossa Águia jogar. Você é sempre bem-vindo por aqui. A casa é sua."


Parabéns, Martinsão! Parabéns, Estádio da Águia! 


Em memória de Mário Ottoboni.
✩ 11 de setembro de 1932
♰ 14 de janeiro de 2019